Single prepara terreno para o álbum “GRACIA MASIVA” sem abrir mão da veia experimental
“CAPRICORN” apresenta Yu em uma das faixas mais acessíveis de sua trajetória, mas sem abandonar o caráter experimental que marca sua obra. O single se constrói como um rap emocional que cruza influências de FKJ, N.E.R.D e ecos guitarrísticos à la Pink Floyd, guiado por um refrão marcante em inglês que funciona como âncora melódica. Mesmo densa em tema e atmosfera, a música é direta, imediata e nasce de uma colaboração intuitiva com Yo e FAB GODAMN, que somam universos distintos em uma faixa de “coração coletivo” muito forte.
Nos versos, Yo e FAB GODAMN entram em português para falar de perda, traição e da sensação de ficar sem norte quando amigos viram silêncio. A canção articula essa ausência dos vivos – relações que se quebram, pessoas que se perdem de si mesmas – com o vocabulário sonoro de um pop sombrio e sofisticado, apontando para algo novo na cena brasileira: uma música pensada para quem sente antes de julgar, que aceita a vulnerabilidade como ponto de partida. Yu vê “CAPRICORN” como uma peça-chave no caminho até “GRACIA MASIVA”, talvez sua canção de estrutura mais tradicional até agora, prova de que consegue habitar um formato mais pop sem se descaracterizar.
O processo criativo reforça esse caráter híbrido e espontâneo. A faixa nasceu de uma session despretensiosa em que Yu experimentava um beat inspirado em FKJ e reaproveitava guitarras de outra música com clima pink floydiano, quando resgatou no celular uma melodia anotada em uma viagem de cogumelos sob o título “ISSO É OURO”. Com Yo no estúdio, a ideia virou refrão na hora, abrindo espaço para a segunda voz e para o diálogo que o artista já projetava. O encontro com FAB GODAMN, iniciado em um show de trap caótico em 2023, se consolidou em 2024 no estúdio: ouvindo várias ideias, ele se conectou com “CAPRICORN” e gravou seu verso inteiro no improviso, capturando um momento anterior à própria explosão do rapper na cena.
O clipe, dirigido pelo próprio Yu com direção de fotografia de Caíque Lima, acompanha essa nova fase com um visual minimalista, conectado à estética inaugurada por “BURN THE BOATS”. O vídeo se abre com o escritor coreano Nick Farawell lendo um monólogo escrito por Yu, estabelecendo de saída um tom confessional e introspectivo. Em termos de narrativa pessoal, “CAPRICORN” dialoga diretamente com “Very Best Friend”: se a faixa anterior falava da ausência definitiva que marcou a infância do artista, aqui o foco está nas ausências dos vivos – amizades rompidas, nomes que viram memória. As duas músicas formam capítulos de uma mesma história de luto e transformação, em que Yu tenta seguir adiante convertendo cortes antigos e recentes em música, expandindo seu universo sem perder o centro.
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