O clichê da “IA do mal” perdeu força no cinema

Com IA real onipresente e útil, vilões artificiais soam datados e pouco críveis

Jared Leto em “Tron: Ares” / Leah Gallo / Disney

A recorrência do vilão “IA do mal” esfriou em bilheteria e imaginação justamente quando os alertas sobre riscos reais da tecnologia se intensificam no mundo fora das telas. Entre estreias recentes e continuações, a premissa parece repetida: uma entidade onisciente vira ameaça global, mas o público já convive com assistentes que planejam viagens e resolvem tarefas domésticas, o que dilui o medo. A dissonância entre pânico apocalíptico e utilidade cotidiana torna a fantasia menos urgente.

Há também um impasse de linguagem: cinema precisa de personagem, e IA abstrata funciona mal como antagonista interessante. Alternativas visuais — cursor onisciente, interface ameaçadora, boneca homicida ou androide — raramente escapam do déjà vu, soando derivativas de HAL 9000, Skynet ou Ex Machina. Sem um “rosto” novo e um conflito humano convincente, a ameaça carece de nuances, virando ruído tecnológico em vez de drama.

O contraste com narrativas sobre armas nucleares evidencia a diferença: bombas têm concretude, espetáculo e histórico que sustentam o medo, enquanto IA é difusa, distribuída e paradoxal — tanto ferramenta quanto potencial risco. Para recuperar relevância, histórias sobre IA precisam abandonar o binário “máquina má” e explorar dilemas atuais: vieses algorítmicos, captura de atenção, colapso informacional, poder corporativo, trabalho, privacidade e accountability.

Caminhos promissores passam por protagonistas afetados por decisões invisíveis de sistemas, vilões humanos que instrumentalizam modelos e conflitos locais com consequências globais. Em vez do clímax “desligar o servidor”, histórias podem dramatizar auditorias, sabotagens de dados, manipulação de recomendação, deepfakes e regulação falha. Quando a IA é tratada como infraestrutura social — e não como demônio encarnado — o suspense volta a falar do nosso presente.

Fonte: THR

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