“Nonada” mergulha nos abismos da finitude em uma distopia

Romance de Renato Amado reflete sobre relações de gênero e solidão em uma Terra plana e ampliada

Renato Amado / Divulgação

O escritor carioca Renato Amado retorna com “Nonada”, seu segundo romance, publicado pela Editora Cajuína e já celebrado como um retrato inquietante do existir contemporâneo. Com prefácio da professora Leila Lehnen (Brown University), a obra mescla ficção científica, existencialismo e lirismo para criar uma alegoria sobre solidão, tecnologia e crise de identidade em um planeta mil vezes maior que o nosso.

Na trama, acompanhamos Galeano, motorista de aplicativo e ex-atleta radical, cuja rotina ganha outro sentido ao avistar, por um telescópio, Seiryu, no lado oposto do mundo. O desejo impossível de contato entre os dois serve como metáfora para as nossas relações digitais, sempre atravessadas por mediações e distâncias, enquanto a crise existencial de Galeano escancara o incômodo diante da finitude. O personagem é cheio de contradições: afetações de ternura misturam-se a marcas de machismo estrutural, tornando-o brutalmente humano.

“Nonada” se destaca pela camada social e política: os diálogos de Galeano com passageiros de Uber desenham um mosaico do Brasil urbano recheado de angústias, preconceitos e absurdos cotidianos. O silêncio e o não-dito atravessam a narrativa, fazendo do vazio — aquilo que falta, aquilo que não se pode nomear — seu próprio motor literário. O título evoca justamente essa presença fugidia, o “quase-nada” que nunca deixa de nos assombrar.

Mais do que uma distopia sobre um planeta plano, “Nonada” é um romance sobre a luta para lidar com o absurdo da existência. Renato Amado propõe um convite incômodo: aceitar nossos limites, dialogar com o universo e suas regras, e não fazer do sofrimento a única resposta. No fundo, é uma história sobre aprender a conviver com o vazio — e talvez, aos poucos, encontrar sentido nele.

 

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