Arte que costura resíduos e histórias globais do consumo

Moffat Takadiwa, nascido em 1983 em Hurungwe, Zimbábue, transforma resíduos pós-consumo como teclados de computador, tampas de garrafa e tubos de pasta de dente em esculturas e tapeçarias murais de grande escala, convertendo descarte em linguagem visual crítica. Sua prática confronta o colonialismo e suas persistências na cultura material, articulando consumo, desigualdade e ambiente, enquanto evidencia sua ancestralidade Korekore como matriz estética e ética do trabalho. Fundador do Mbare Art Space, em Harare, ele estrutura uma rede comunitária de criação que reaproveita materiais e transmite saberes, consolidando um polo dedicado à revalorização do que a cadeia produtiva descarta.
O método do artista combina pensamento conceitual e gesto manual: uma equipe coleta, separa, limpa e tece milhares de peças industriais até formar composições densas, cromáticas e tácteis que evocam tapeçarias rituais. Essa dinâmica coletiva resiste à lógica acelerada da produção industrial, reabrindo o tempo do fazer e inscrevendo cooperação como fundamento de uma estética decolonial. Ao “reprogramar” objetos, suas obras tornam visíveis os circuitos globais do consumo, o fluxo de identidades e a memória embutida nos materiais, convocando o público a confrontar legados ecológicos e coloniais.
Com presença internacional crescente, Takadiwa figura entre as vozes mais influentes da arte africana contemporânea, com mostras em instituições e grandes eventos pelo mundo. Em 2024, integrou o Pavilhão do Zimbábue na 60ª Bienal de Veneza, com assemblagens têxteis que refletiram sobre retornos cíclicos de materiais e histórias, consolidando o diálogo entre tradição e crítica do presente. Em 2025, participa da 36ª Bienal de São Paulo com obra de grande formato, reforçando seu alcance na cena latino-americana e o interesse por estéticas decoloniais e práticas sustentáveis.
Sua trajetória recente inclui exposições individuais como Tales of the Big River, na França, e Vestiges of Colonialism, na Galeria Nacional do Zimbábue, que aprofunda a leitura das sobrevivências imperiais na vida cotidiana. Em diferentes contextos, seus trabalhos operam como mapas materiais de rotas comerciais, tecnologias e hábitos, onde cada componente carrega uma biografia e reencena relações de poder. Assim, Takadiwa forja uma poética em que reparo, memória e coletividade transformam lixo em legado e crítica em beleza operativa.
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