Julia Lopes de Almeida retorna com reedições

Publicadas pela Janela Amarela, as obras de 1908 e 1922 revelam crítica social afiada e personagens femininas complexas

Julia Lopes de Almeida / Divulgação

“A Intrusa” (1908) e “A Isca” (1922) voltam às prateleiras e reabrem o diálogo com uma autora central da literatura brasileira, cuja escrita une drama íntimo, crítica social e olhar clínico sobre costumes e moralidade do início do século XX. Em “A Intrusa”, Julia acompanha Argemiro, viúvo que promete não se casar novamente, e vê a chegada de uma jovem governanta incendiar tensões de classe, gênero e desejo — um enredo que expõe o peso das aparências e o moralismo burguês sob o qual mulheres eram constantemente julgadas.

Em “A Isca”, quatro novelas — “A Isca”, “O Homem que Olha para Dentro”, “O Laço Azul” e “O Dedo do Velho” — percorrem paixões, vaidades, duplicidades e o insólito, com viradas irônicas e sutis que revelam a hipocrisia social. O volume alterna psicologia fina e imaginação, incluindo uma fábula sobrenatural que amplia o registro realista e confirma a elasticidade formal da autora. Em comum, as narrativas confrontam convenções e iluminam zonas cinzentas da moral — tema que permanece vivo e pertinente.

Figura decisiva do debate intelectual de seu tempo, Julia Lopes de Almeida defendeu educação feminina, divórcio e abolição, escreveu para grandes jornais e foi idealizadora da Academia Brasileira de Letras — da qual mulheres estavam excluídas. Sua ficção destaca protagonistas femininas complexas, linguagem direta e uma crítica que, um século depois, ainda interpela leitoras e leitores sobre poder, preconceito, afeto e liberdade. O retorno desses títulos ajuda a reconstituir um cânone mais plural e justo.

Com essas edições, a Janela Amarela aposta em resgate curatorial e leitura acessível, atualizando ortografia e oferecendo notas para termos em desuso, sem diluir a força histórica dos textos. Ao reunir e republicar a obra de Julia de forma contínua, o projeto reafirma a autora no lugar de destaque que lhe pertence: uma voz moderna, ousada e necessária, capaz de tensionar o passado e iluminar questões do presente.

 

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