A animação em fotografias analógicas, foi produzida com 20 câmeras-lata

Estreia no dia 7 de setembro, o curta-metragem “Espero Que Não Se Importe”, feito pela dupla artística Passo de Duas, composta pelas artistas paulistanas Natalia Lemos e Morgana Siqueira. O filme faz parte do projeto Espero que não se importe – Cinema de Pin-hole, criado pela dupla, que inclui oficinas da técnica pin-hole de fotografia analógica para o público interessado.
Ao acordar, uma mulher (Morgana Siqueira) encontra um bilhete deixado em sua mesa de cabeceira. A mensagem avisa que há peixes dentro de uma garrafa de água de côco em sua geladeira. Ao vê-los, ela decide beber os peixes – não somente a água –, que começam a viajar dentro de seu corpo e a fazem dançar.
A narrativa foi criada a partir de um sonho da diretora Natalia Lemos com peixes pulando pela escada de sua casa. “Depois tive a ideia do bilhete deixado por alguém avisando sobre eles”, relembra a artista. “A criação dessa narrativa foi muito mais intuitiva do que racional. Na época, eu morava com uma amiga que gosta muito de coco – sólido e líquido – e estávamos numa convivência intensa, era época de pandemia, e hoje, mais distante da situação, vejo que isso inconscientemente influenciou minha criação.”

Lemos e Siqueira fotografaram cada frame do filme com 20 latas de leite em pó utilizando a técnica pin-hole. “É um processo muito artesanal”, comenta Lemos. Para fotografar com as latas, é preciso abri-las, inserir o papel e fechá-las. Na lateral da lata, é feito um pequeno furo, por onde a luz vai passar e, assim, a imagem será queimada no papel. Para fazer boas fotos, é preciso controlar o tempo de exposição da luz sobre o papel. Em média, para cada foto do curta-metragem, foram necessários entre 30 e 55 segundos de exposição. Em cenas estáticas, os atores não podem se mexer durante o período. Naquelas com movimento, ele deve ser suave e lento para ser registrado – se for feito rapidamente, o papel não faz o registro.
“A física sempre me inspirou, e a parte química da revelação também”, diz Lemos. A arte, segundo as criadoras, surge a partir da mecânica do pin hole. “Esse projeto tem um pouco de tudo, ele é cinema, mas também é dança, é fotografia, trabalha com diferentes linguagens”, afirma Siqueira.

Ao todo, foram produzidas mais de 350 fotos originais. O filme tem 279 imagens fotografadas no apartamento de Siqueira, principal cenário da história, nas águas do rio Itaguaré e nas ruas dos bairros da Lapa e Vila Mariana, em São Paulo. Todo o material foi revelado no “menor laboratório do mundo”, um banheiro na garagem da casa de Lemos – sede do Projeto Rabisco –, que ela transformou em um laboratório de revelação. Cada fotografia foi revelada ali, uma a uma, ao longo dos três anos de projeto – e muitas não deram certo, não ficaram boas por falta de exposição à luz ou do movimento. Durante a revelação, as imagens saem como num filme negativo e precisam ser escaneadas para serem “positivadas”.
Para promover e financiar o projeto ao longo do tempo, a dupla produziu alguns itens com as fotos do filme para comercializar. Em 2024, foram contempladas com o edital de R$ 50 mil do ProAc SP (Programa de Ação Cultural de São Paulo) para produção do segundo ato e montagem do curta-metragem, que contou com uma pequena mas essencial equipe de mulheres como iluminadora, preparadora corporal, editora e desenhista de som e das oficinas que serão divulgadas no Instagram da dupla.
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