Obra de Maya Watanabe, em cartaz no MASP, liga restos mortais a questões de desigualdade, ecologia e memória histórica no Peru
O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, de 5 de dezembro a 25 de janeiro, a Sala de Vídeo: Maya Watanabe. A mostra exibe Bullet (2021), inédita no Brasil, criada pela artista peruana Maya Watanabe e curada por Glaucea Helena de Britto. A obra parte do registro do crânio de uma vítima não identificada dos conflitos internos que assolaram o Peru entre 1980 e 2000, um período violento que deixou cerca de 70 mil mortos.
Na videoinstalação, a câmera percorre o interior do crânio através de uma fratura causada pela bala, revelando uma paisagem rochosa repleta de crateras, relevos e recifes ósseos. Uma aranha ocupa o espaço com sua teia, sinalizando a passagem do tempo e o descaso do governo com a investigação dessas mortes. A curadora Glaucea Britto lê a obra como uma denúncia contra execuções arbitrárias e a impunidade, conectando o social ao ecológico.
A mostra propõe uma leitura de ecologia não apenas como tema ambiental, mas como campo de poder, desigualdades, violência de Estado e memória histórica. Paisagens, corpos e territórios aparecem marcados por conflitos que atravessam gerações. A videoinstalação tem duração de dez minutos e foi produzida pela Fundação BBVA – Museu de Belas Artes de Bilbao, via o programa MULTIVERSO, com apoio do Mondriaan Fonds e do MOT de Tóquio.
SOBRE A ARTISTA: Maya Watanabe (Lima, 1983) vive em Amsterdã e realiza instalações de vídeo que exploram os limites da representação em contextos de violência política. Sua prática investiga a interseção entre memória pessoal e memória coletiva e já circulou por Manifesta, Videobrasil, Havana, entre outras plataformas. Ela leciona na Gerrit Rietveld Academie, em Amsterdã, e atua como pesquisadora de doutorado na Goldsmiths, University of London. A programação do MASP reforça acessibilidade, com recursos para pessoas com deficiência e visitas em Libras.
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