Review: a reinvenção da comédia esportiva em Marty Supreme

Filme mistura energia de Scorsese, caos de Uncut Gems e humor de hustler novaiorquino

Marty Supreme marca o retorno de Josh Safdie à direção solo em um longa que, ironicamente, é um dos mais “safdianos” que ele já fez. Ambientado no início dos anos 1950, o filme acompanha Marty Mauser (Timothée Chalamet), um vendedor nato e aspirante a astro mundial do tênis de mesa, que tenta pingar e pongar para fora do Lower East Side de Manhattan em uma jornada que combina comédia esportiva, estudo de personagem e uma carta de amor nervosa e vibrante à Nova York da época. A crítica aponta ecos de Uncut Gems, mas com um toque mais lúdico à la Prenda-me Se For Capaz, mantendo sempre a câmera colada na energia frenética do protagonista.

Inspirado vagamente na vida do fenômeno real Marty Reisman, o roteiro mostra Marty pulando de Londres a Tóquio, passando por cidades como Paris, Sarajevo, Tânger e Cairo, mas é em Nova York que o filme encontra seu coração, graças a uma recriação de época minuciosa e a um elenco coadjuvante cheio de rostos “esculpidos na rua”, mais próximos da fotografia de Diane Arbus do que de qualquer agência de casting. Safdie usa essa moldura para retratar um hustler de moral flexível e fé absoluta em si mesmo: ele chantageia o tio sapateiro, seduz a ex-namorada Rachel (Odessa A’zion), vira parceiro de trambiques do taxista Wally (Tyler, The Creator) e cruza o caminho de figuras excêntricas como a ex-estrela de cinema Kay Stone (Gwyneth Paltrow) e o magnata Milton Rockwell.

Um dos pontos mais comentados é o uso ousado de música: a trilha original orquestral de Daniel Lopatin se mistura a escolhas de época nada ortodoxas, como abrir e fechar um filme dos anos 50 ao som de Tears for Fears, além de encaixar Peter Gabriel e Public Image Ltd. em momentos-chave. Esse contraste sonoro reforça a ideia de Marty como um sonhador volátil, decidido a tratar o pingue-pongue como se fosse boxe ou beisebol e a si mesmo como uma superstar em potencial, mesmo quando está quebrado, fugindo de encrencas ou improvisando truques em turnês ao lado de rivais como o húngaro Béla Kletzki e o japonês Endo. Os set pieces de caos coreografado — com cachorros, golpes que dão errado, perseguições e tiroteios em New Jersey — mostram o diretor no auge da capacidade de organizar desordem na tela sem perder o fio emocional.

Nas atuações, Chalamet abraça sem pudor o lado antipático de Marty, fazendo dele um quase — ou completo — babaca movido por ambição e carência de reconhecimento, mas que ainda assim mantém um charme torto que ajuda a segurar o público ao longo da montanha-russa moral do personagem. Paltrow entrega uma das performances mais fortes da carreira recente, como uma ex-estrela que trocou desejo e arte por conforto material e vê no garoto um espelho invertido de suas próprias renúncias. Odessa A’zion, como Rachel, desponta como grande destaque ao transformar uma amante “à margem” em alguém capaz de igualar Marty em astúcia e teimosia, enquanto o visual granulado de Darius Khondji e o desenho de produção de Jack Fisk completam um pacote que transforma a trajetória desse anti-herói em um mergulho sensorial na cidade e em sua cultura de hustle eterno.

Fonte: THR

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