Maíra Valério mergulha em solidão, trabalho, amor e trauma na pressão das redes
Amarga, o mais novo livro de poesia de Maíra Valério, chega às livrarias pela editora Orlando e celebra a vitória no Prêmio Tato Literário na categoria poesia. A obra conta com um texto de orelha assinado por Thaís Campolina e reafirma a voz crítica da autora diante dos dilemas vividos na era digital. Nascida e criada em Brasília, Maíra constrói uma poética que equilibra ironia, afeto e uma observação afiada do cotidiano.
Com linguagem seca, humor áspero e toques de melancolia, Amarga desmonta a ideia de positividade tóxica ao colocar em foco o que é desconfortável no dia a dia. A epígrafe de Hilda Hilst — Só não existe amargura onde não existe o ser — antecipa o tom contundente. O livro está estruturado em cinco seções — remela, vazio em full HD, mordendo a cutícula, indigestão e trabalhar pra morrer — que dialogam com o urbano e o digital, explorando imagens cruas que cruzam o concreto da cidade com as telas que nos medem.
As imagens que percorrem o livro são recorrentes: comida, coração, mãos e olhos. O eu lírico é deliberadamente amargo, exagerado, ansioso e cansado, mas a poesia transforma essa experiência em voz própria. Maíra afirma que quis revelar o que não cabe nos sorrisos padronizados das redes, abrindo espaço para a raiva legítima diante de uma sociedade de aparências. A obra dialoga com referências de Hilda Hilst, Cecilia Pavón e Adélia Prado, além de influências musicais e do universo dos quadrinhos, o que confere uma linguagem cartunesca.
Sobre a Orlando e a parceria com a com.tato, Amarga surge como uma proposta editorial voltada a autores independentes e à visibilidade de projetos arrojados. O catálogo da editora trabalha com selos específicos — ziguezague, dobradura, espiral e brecha — para organizar propostas diversas.
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