Ariana brilha; Erivo sustenta o coração dramático
A segunda parte do musical de Jon M. Chu entrega um fechamento emocionalmente robusto: se o primeiro filme pertencera à Elphaba, aqui a narrativa desloca o foco para Glinda e encontra uma simetria que justifica o díptico, ainda que a divisão em dois longas continue discutível. Cynthia Erivo segue colossal — voz, presença e uma intensidade que nunca soa forçada —, mas é a performance radiante de Ariana Grande que reequilibra o eixo dramático ao humanizar Glinda para além do arquétipo.
O roteiro de Winnie Holzman e Dana Fox costura o caminho de volta a O Mágico de Oz com inteligência, introduzindo origens de figuras canônicas e usando a propaganda de Morrible para acentuar a demonização do “outro”. O filme respira como um ato dois expandido: menos showstoppers, mais arco, com novas canções que funcionam mais pelo que revelam das personagens do que pelo brilho melódico em si. A direção mantém a opulência de design e figurinos, por vezes excessiva na coreografia de massa, mas coerente com a fantasia grandiloquente proposta.
O mérito maior está no retrato de uma sororidade que amadurece sob pressões políticas e afetivas: Elphaba encontra salvação na fidelidade a um senso de justiça que a marginaliza, e Glinda ganha estatura ao assumir responsabilidade pública, ferida e mais lúcida. Quando ambas chegam a For Good, a catarse vem menos do espetáculo e mais do acúmulo de escolhas, lealdades e perdas.
Como cinema, este capítulo é menos surpreendente que o anterior, porém mais centrado nas consequências — um passo atrás em “uau” visual, um passo à frente em densidade emocional. Se você amou a primeira parte, esta deverá tocar nas mesmas teclas com maturidade; se só “gostou”, deve repetir a medida. O conjunto — quase cinco horas — pode soar generoso demais, mas a dupla Erivo/Grande sustenta a jornada e faz o desfecho valer a travessia.
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