Livro da Editora Cachalote propõe uma “estética da cicatriz”, entre dor, desejo e reinvenção

Premiado roteirista e mestre em Teoria Literária, Antonio Arruda estreia na literatura com “O corte que desafia a lâmina” (131 págs., Editora Cachalote), um inventário poético e visceral que mistura conto, poema, aforismo e ensaio. A obra cruza ficção e autobiografia para encarar experiências-limite, onde corpo, silêncio e rito se entrelaçam em uma linguagem de alto impacto sensorial. É um livro sobre atravessar a dor e transformá‑la em forma, ritmo e pausa.
O ponto de partida é a morte do pai, cuja voz ausente convoca a voz poética do autor; daí nasce a “estética da cicatriz”, um enfrentamento entre corte e lâmina que guia forma e conteúdo. Os textos tensionam eros e tânatos: do conto de abertura, “Em nome do filho”, de fisicalidade quase cirúrgica, a imagens alegóricas de morte e renascimento, como o homem que leva ao mar a carcaça de uma tartaruga. A oficina de Isadora Krieger foi berço das primeiras versões.
Temas como homoerotismo, violência, repressão e espiritualidade atravessam a escrita, permeada por vivências na umbanda e em matrizes afro-brasileiras. Essa dimensão mística se soma ao olhar de jornalista e roteirista (Era Uma Vez no Quintal, APCA 2014; Cidade Invisível, indicada ao ABRA) para compor um campo de forças entre intimidade e símbolo. O resultado é um livro-corpus que sangra e sutura, onde cada frase parece ferir e curar ao mesmo tempo.
Lançado com sessões em diversas capitais e já em primeira reimpressão, o título segue em circulação com debates e clubes de leitura. Arruda — que também é educador — afirma perseguir, desde a infância, a palavra literária como matéria de vida. Em “O corte que desafia a lâmina”, esse desejo se realiza em páginas que convidam a encarar a própria fissura e, ao fazê-lo, reconhecer a possibilidade de epifania no que parecia apenas ferida.
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